INSTITUTO INATEKIÉ
Formação em Etnomedicina e Xamanismo
Juliana dos Reis Alves
Nahil G. Gomes Freitas
Trabalho de Conclusão de Curso 2021
Formação em Terapeuta Xamânico e Etnomedicina
Professor e Mestre
William B. Figueiredo (Nuvem Branca)
Introdução
Xamanismo é um termo que se refere a um amplo sistema de práticas étnicas médicas, mágicas, espirituais e filosóficas que envolvem cura, transe, transmutação e contato entre outros xamãs, criaturas míticas, animais e os corpos e almas dos ancestrais.
O xamanismo urbano se tornou muito comum, sendo possível despertar em qualquer um o arquetípico do xamã, na busca da conexão com o espiritual, o autoconhecimento, a busca do entendimento do “eu sou”, “qual meu propósito”; como estar em constante busca sobre a força interior e o reencontro com os ensinamentos da natureza. Para os mestres do xamanismo, o remédio para todas as doenças está em todos, então ninguém pode curar ninguém, mas pode-se curar a si mesmo.
Aprendizados durante o ano
O xamanismo não é uma religião, mas sim, como o indivíduo olha para o mundo, um conjunto de práticas com diálogo com espíritos.
Ao iniciar o curso de Formação Terapêutica Xamânica e Etnomedicina, o primeiro ensinamento é a desconstrução de crenças, ideologias e limitações que criamos de acordo com nossa criação familiar, cultura, sociedade e vivências pessoais. Com as aulas presenciais, foi enriquecedor, o contato pessoal com pessoas de diversas vivências, experiências particulares, profissões, religiões, diferentes entre si.
Iniciamos o curso aprendendo sobre o neoxamanismo urbano e xamanismo tradicional, entendendo suas particularidades, iniciando o aprofundamento em compreender como as práticas eram aplicas, em seus métodos tradicionais, de acordo com suas culturas, e consequentemente, como foram “mudando” com o passar dos séculos, trazendo referências e “modernização” de métodos de atuação, que ainda assim, tão rica em técnicas a serem aplicadas na área da saúde integrativa.
Desde o primeiro dia, fomos enriquecidos de conhecimento, assim como abastecidos com várias literaturas sobre o assunto, e um dos primeiros pontos absorvidos foi de que, na busca de ser tornar um xamã, não basta apenas a prática, existe a necessidade do constante comprometimento com o estudo constante.
“A sociologia do xamanismo ainda está por ser escrita, e estará entre os capítulos mais importantes de uma sociologia geral da religião. O historiador das religiões é obrigado a levar em conta todas essas pesquisas e seus resultados: somados aos condicionamentos psicológicos apontados pelos psicólogos, os condicionamentos sociológicos, no sentido mais amplo do termo, vêm reforçar a concretude humana e histórica dos documentos com os quais lhe cabe trabalhar. Essa contribuição concreta será ainda reforçada pelas pesquisas dos etnólogos. Caberá às monografias etnológicas situar o xamã em seu meio cultural.”
O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase. Página 09; MIRCEA ELIADE. Paris, março de 1946-março de 1951
Aprendemos sobre os ritos de passagem, da criança que passa do estágio infantil para o adulto, incluindo o indivíduo para as relações sociais da comunidade, assim como algumas formas abordadas para se “tornar” um xamã, e os ensinamentos repassados por gerações para a continuidade da própria história, mantendo vivo os ensinamentos dos ancestrais.
As experiencias presenciais no retiro, como o entendimento das 4 direções, suas cores utilizadas, aplicados no modelo tradicional pelos povos nativos americanos, a história referente ao grande espírito, o búfalo branco, a relação dos 4 clãs, e os arquetípicos dos animais que representam as direções, o significado e a simbologia de cada uma das 36 pedras, assim como associação aos 4 elementos em cada direção, podendo ser aplicado em um atendimento terapêutico, com o uso da roda da medicina.
Imagem enviada para aula de roda da medicina
Com o passar das aulas, nos foi mostrado a Jornada do Herói, onde entramos em reflexão da ideia do propósito de quem decide, ou tem o chamado em seguir o tão falado caminho vermelho, uma demonstração onde aprendemos que o xamã é um guerreiro, que deve estar em constante vigília, entre suas batalhas internas, ataques espirituais, e a vida nesse mundo 3D onde vivemos, mantendo o equilíbrio, vivendo com a “loucura controlada”, e ainda sim, usar de seus dons de conexão para o auxílio da comunidade.
Na sequência, entramos com o estudo sobre o xamanismo andino, sobre os 3 mundos Hananpacha, Kaipacha e Uhupacha), assim como a compreensão sobre o estado de segunda atenção, para o acesso ao Nagual, o lugar onde tudo existe, apenas não percebemos com nossos sentidos comuns.
Fonte: https://materialeseducativos.org/wp-content/uploads/
La-Cosmovisi%C3%B3n-Andina-para-Primer-Grado-de-Secundaria.pdf
Na prática, tivemos experiencias com as poses de transes, imagens encontradas em artefatos, artes e instrumentos, em várias culturas diferentes, onde é necessário um estudo muito mais aprofundado, porém, nos foi apresentada algumas delas, sendo cada uma com uma finalidade, demonstrando na prática, a aplicação para o uso terapêutico e atendimento de pacientes.
Posturas - Sibalto maya; Postura do Urso; Invocação dos espíritos
Na sequência, tivemos o esclarecimento sobre, acredito que um dos assuntos mais abordados em trabalhos xamânicos, animais aliados, o conhecimento adquirido sobre o assunto, entender como essa conexão acontece, a vivência, o estudo dos arquetípicos, a medicina do animal, e após, a experiência com a jornada com o tambor, para o possível encontro do animal, aquele que poderíamos chamar para nos ajudar nas etapas da nossa caminhada, assim em atendimentos, como por exemplo, resgate de alma em pacientes, enfim, o aprendizado enriquecedor, nos tornando muito mais observador e entender o uso da conexão com os animais aliados.
Um dos módulos foi o conhecimento das ervas, produção de tinturas, oleatos, extratos bases para produção de pomadadas, sprays, entre outras funções. Assim como o uso dos florais de Bach, para que possamos formular “remédios”, auxiliando o tratamento a qualquer paciente, e por si só, a possibilidade de buscar a autocura.
Nesse módulo tivemos a oportunidade de participar de uma consagração com uma das plantas de poder, a ayahuasca, guiada através de rezo, tambor e aula dentro da força, e foi um divisor de águas, pois nos foi adquirido uma conexão com o propósito de vida muito significativo.
Módulo 6 - 24 e 25 de JULHO
Dentro das práticas desenvolvidas e vivenciadas existem particularidades para a cura usadas dentro da comunidade, utilizando métodos de uso de banhos, ervas, assim como o uso de instrumentos de poder, como penas, marakás, tambor, defumação com cachimbo (tabaco), entre outros instrumentos para uso de limpezas energéticas de pessoas. Um dos métodos para atendimento em clinica foi a mandala pessoal, que de forma inconsciente, o paciente ilustra de forma simbólica, questões pessoais que podem nos ajudar no seguimentos de auxilio e direcionamento de tratamentos.
Tivemos um workshop muito interessante com o Chefe Guaianá e historiador, Luiz Canê Minguê, nos enchendo de conhecimento sobre suas experiencias seu vasto estudo sobre a Nação Guaianá, cultura, e uma experiência com seu oráculo de ossos.
Workshop Luiz Canê Minguê – Demonstração do Oráculo
No dia seguinte, além de uma apresentação sobre alguns oráculos que poderemos utilizar, entendendo que a função de um oráculo, é trabalhar através da sincronicidade, de modo que se entra em ressonância com a sincronicidade das possibilidades existentes. Tivemos uma grande aula sobre a história do Reike Xamânico, iniciando desde os princípios do Reike Usui, o Maheo, o seu propósito e a prática de aplicação. Onde fomos iniciados em Reike Xamânico Maheo I,II e III.
No nono modulo do curso, entramos no Xamanismo Kahuna, uma filosofia incrível, onde estudamos sobre Mana, sobre nossas 3 consciências, Aumakua, Uhane e Unihipili, pontos entrais de força (Kahi Loa), e como utilizar o Mana em manobras de cura como essa, e como a importância e responsabilidade do uso do intento. Além de aprender a massagem Lomi-lomi, sua forma de aplicação.
No penúltimo módulo, foi um dia especial, o dia de construirmos nossos corações, nossa oficina de tambores, aprendendo com ele, a paciência, a persistência, como devemos ter muita força e trabalho para conseguirmos chegar ao objetivo com o que se orgulhar. O Primeiro toque foi um momento eternizado em nossa trajetória. Após a finalização do nosso coração, aprendemos a trabalhar com a vibração do tambor para limpeza energética, um novo ensinamento do uso do instrumento de poder, um aliado em nossa vida.
Módulo de tambor– Construção do coração
No módulo de finalização do curso, fizemos a construção do maraká, entendendo toda sua simbologia e o uso individual para a cura. E por fim, a consagração que foi, com toda a certeza, transformador, onde tivemos o renascimento, uma conexão inexplicável e com certeza, do caminho que queremos seguir. A presença do mestre William nos fez entender e sentir a força do pajé, a postura de um mestre cerimônia, o intento e a segurança que um condutor de cerimônia deve-se ter para assumir um trabalho com as medicinas. Seus rezos, ensinamentos e intento nos mostrou o exemplo que queremos seguir em nossa caminhada. Foi ali que finalizamos um ciclo para iniciarmos um novo, respeitando nossa ancestralidade, nos conectando com o nosso propósito, o aprofundamento na prática da terapia xamânica, nos tornando bons exemplos, e conseguir ajudar ao próximo não como milagreiros, mas sim, como facilitadores de rodas de medicinas xamânicas, pois entre as diversas técnicas também estudamos, levar ao outro, a autocura e o entendimento de si mesmo.
Iniciação e conclusão do curso – 18 e 19 de dezembro de 2021.
Conclusão
Juliana Alves – TXA 2021
Quando decidi iniciar um curso sobre Xamanismo, não imaginava que, através dele, no intuito de aprender a ajudar os outros, eu iria encontrar as minhas curas simultaneamente. Eu busquei muito, comparei muitas grades curriculares, de diversos sites, mas de alguma forma, toda busca, finalizava no site do Instituto, e só tenho gratidão por isso. O curso me mostrou como é rico os conhecimentos do xamanismo, e sua diversidade de aplicação, como a medicina do Cuy Negro, algo que nunca tinha ouvido falar, e que foi nessa aula, que tive a desconstrução real do preconceito que tinha sobre o uso de animais para a cura, algo que ainda havia um incomodo que talvez, não aceitava essa prática como justificativa para o beneficio de ajudar, porém, uma abordagem sobre o assunto no curso, me fez refletir, e compreender como eu preciso aprender a respeitar coisas, e eu achei que estaria tudo bem.
Aprendi muito durante os 11 módulos, e alguns aprendizados que me marcaram, foram as aulas de transe, onde identifiquei, que por alguma razão, minha mente projeta muitas informações através do tambor, e isso é algo que quero estudar e me aprofundar. Em vários aspectos, como as posturas, as jornadas, o resgate de almas.
O Xamanismo Kahuna foi muito especial também, pois a filosofia é tão rica de conhecimento, técnicas que quero muito me conectar ainda mais com esses estudos.
Um momento marcante, foi de fato, a cerimonia de iniciação, foi muito intenso, eu nunca participei até então, de uma consagração, com uma força tão forte, entretanto, foi esclarecedor, e posso dizer que, senti que morri naquele dia, e renasci com uma nova bagagem de conhecimento. Lembro que eu dizia a força: - Eu não quero morrer.
E a forma me respondia: - Você já vive a morte. Como se diz na bíblia, “e é morrendo, que se vive para a vida eterna”... o que você vive, é uma oportunidade.
Os seres andando na casa de rezo, o lobo guará andando ao redor de nós. Enfim, com muito amor Exu que se fez presente, me ajudando e ensinando mais uma vez e nos acompanhando na jornada. Eu só tenho a agradecer a você Willian, por tudo, os ensinamentos compartilhados, a paciência, e a persistência de continuar no despertar individual de cada um. Você pode não saber, mas transformou a minha vida. Por todas as nossas relações!! E que o Grande Espírito, te ilumine sempre. Mais uma vez, Gratidão! Aho.
Conclusão
Nahil Freitas – TXA 2021
O Xamanismo, essa palavra moderna que rotula as práticas de cura e gnose dos povos originários, nossos ancestrais, tem se difundido muito pelas redes sociais, a ponto de já podermos falar de Neoxamanismo, ou seja, um xamanismo praticado dentro da nossa realidade urbana, vulgo “os sem floresta”, é certamente um estudo necessário para a pessoa (individuo) que quer trilhar um caminho de conhecimento. Caminho esse que só é perceptível a partir do momento que aprendemos a estar na “ segunda atenção “, um estado de observação constante, dos movimentos da natureza, seus ciclos, trazendo isso para a prática constante em nossa vida.
Aprender sobre Xamanismo com o Mestre e Professor William Figueiredo (Nuvem Branca) é literalmente a saída do “0 pro 1”, pois ele nos passa seu conhecimento de forma literal, aliando as práticas, e sem o “misticismo” comum que vemos em algumas comunidades. No curso, foram abordados assuntos diversos, porém pertinentes, e de forma muito harmônica todos os temas se encaixam, nos dando uma gama de conhecimentos e possibilidades, para exercemos um trabalho real, com propósito e muito intento, em proporcionar conforto e acolhimento a pessoa que viermos a tratar, possibilitando a “cura” de suas mazelas.
No módulo sobre “Animais Aliados”, aprendi que esses espíritos, que se apresentam em forma de animais, de força primeva, tem diversas aplicações dentro do “ Caminho do Guerreiro”, e há de se criar uma relação com esses espíritos, para assim podermos trabalhar seus arquétipos e suas medicinas, dentro do caminho qual o praticante/estudante de Xamanismo pretende trilhar.
Os tambores são meus aliados desde que comecei a vislumbrar as práticas xamânicas, e dar vida a um foi uma experiência inenarrável. É a primeira batida de um coração.
O Xamanismo Kahuna foi uma dádiva, pois trouxe ensinamentos sobre “Mana” e “Mana-O”, a energia e como você a direciona. Sobre as bênçãos e as relações, seja entre sua família, com pessoas, ou com o mundo.
Enfim, Eu só tenho a agradecer a você Willian, por partilhar seus conhecimentos, sua postura, e a persistência de continuar no despertar individual de cada um.
Aho Mitakuye Oyasin!