Tornar-se um psicanalista é um processo formativo complexo e multifacetado, que transcende a mera aquisição de conhecimento teórico em um ambiente acadêmico tradicional. No cerne dessa jornada, encontra-se o "tripé analítico", composto por três pilares interdependentes: a análise pessoal, o estudo teórico e a supervisão clínica. Essa estrutura fundamental garante um desenvolvimento completo e eficaz do futuro psicanalista. Nesse contexto, o "grupo de transmissão" emerge como um elemento vital, atuando como uma ponte e um catalisador essencial para a consolidação desses três pilares e, consequentemente, para a formação de analistas competentes e reflexivos. Este relatório visa elucidar a importância do "grupo de transmissão" para cada um dos componentes do tripé analítico, demonstrando sua relevância intrínseca no processo de formação psicanalítica.
O Que é um Grupo de Transmissão em Psicanálise?
O "grupo de transmissão" em psicanálise pode ser definido como um espaço dedicado dentro de instituições psicanalíticas, com o objetivo primordial de facilitar a transmissão do conhecimento e da prática psicanalítica para aqueles em formação.
A finalidade principal desses grupos não reside na simples replicação de um modelo teórico ou técnico, mas sim no estímulo ao pensamento crítico, à criatividade e à flexibilidade psíquica dos futuros analistas. A transmissão, nesse sentido, é um processo dinâmico e adaptável, que busca ressoar com o contexto particular de cada grupo, reconhecendo a diversidade de estilos e abordagens dentro do campo psicanalítico como um fator enriquecedor.
Aqui no Instituto temos um Grupo de Transmissão, O Fluxus.
Um Grupo de Transmissão, em sua prática, opera sob alguns princípios fundamentais que ilustram a essência de um "grupo de transmissão". Um desses princípios é a manutenção de uma postura aberta e crítica em relação às normas sociais, evitando o achatamento das diferenças, inclusive na formação do analista. A neutralidade do analista é compreendida como uma escuta desprovida de preconceitos, que preserva a singularidade do outro. Outro aspecto crucial é a leitura atenta do campo psicanalítico local, buscando compreender as dinâmicas transferenciais e institucionais específicas de cada grupo para moldar a transmissão de maneira criativa e pertinente. Essa adaptabilidade se manifesta na criação de dispositivos específicos de trabalho, como o "Introdutório Clínico" para candidatos no início da prática e o "Percurso Introdutório" para grupos com menor familiaridade com a obra freudiana. Além disso, os "grupos de transmissão" frequentemente enfatizam o trabalho entre pares e a grupalidade como formas de sustentar a abertura e evitar o dogmatismo teórico, complementando a estrutura individual do tripé analítico. A coordenação desses grupos tende a ser descentralizada e não hierárquica, buscando evitar a figura de um mestre que possa inibir a elaboração dos participantes, promovendo a circulação da palavra e a apresentação de casos clínicos. A própria teoria é abordada de maneira aberta, mantendo o "não saber" como um alicerce fundamental do trabalho analítico, e os conflitos que emergem são vistos como parte integrante do processo formativo, sendo trabalhados para a construção de redes de sustentação. Essa abordagem dinâmica e adaptável, centrada nas necessidades do grupo e na promoção do pensamento crítico, diferencia o "grupo de transmissão" de modelos de ensino mais tradicionais.
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A Teoria em Diálogo: O Grupo Fluxus e o Pilar Teórico
O estudo da teoria psicanalítica em um "grupo de transmissão" oferece uma experiência de aprendizado significativamente mais rica e profunda do que o estudo individual. A troca de perspectivas e a circulação de ideias entre os participantes enriquecem a compreensão dos conceitos teóricos, prevenindo a cristalização em uma única interpretação. Em um ambiente grupal, diferentes olhares sobre um mesmo texto ou conceito podem iluminar nuances e complexidades que passariam despercebidas no estudo solitário. O objetivo não é alcançar um consenso forçado, mas sim explorar a teoria a partir de múltiplos pontos de vista, reconhecendo a validade de diversas compreensões.
Ademais, as discussões em grupo facilitam a conexão entre a teoria e a prática clínica. Ao ouvir como colegas interpretam e aplicam os conceitos teóricos em diferentes contextos, o futuro analista amplia sua própria capacidade de compreensão e de utilização da teoria como ferramenta para pensar a clínica. A experiência de um grupo de estudos psicanalítico durante a pandemia de COVID-19 ilustra bem esse ponto. A troca de experiências, opiniões e angústias durante os encontros online facilitou o aprendizado e forneceu uma base sólida para o atendimento clínico, auxiliando na associação entre a teoria e a prática. Essa dinâmica dialógica, onde a teoria é constantemente revisitada e ressignificada através da interação com outros, contribui para o desenvolvimento de um pensamento analítico crítico e flexível, essencial para a prática psicanalítica. A própria natureza da transmissão da psicanálise, que difere do ensino tradicional por envolver um elemento inconsciente e o despertar do desejo de escuta , é potencializada no ambiente grupal, onde as ressonâncias e os processos identificatórios podem ocorrer de maneira mais intensa e diversificada. O estudo teórico, como um dos pilares do tripé analítico, é assim fortalecido pela experiência do "grupo de transmissão", que o transforma de um aprendizado meramente intelectual em uma internalização viva e dinâmica do saber psicanalítico.
Análise Pessoal Ampliada: A Contribuição do Grupo de Transmissão
Embora a análise pessoal seja um processo fundamentalmente individual, a participação em um "grupo de transmissão" pode complementar essa experiência de maneiras significativas. O ambiente grupal oferece a oportunidade de observar e compreender as diversas formas pelas quais as dinâmicas inconscientes se manifestam em diferentes indivíduos. Ao ouvir as interpretações e as experiências de outros participantes, o futuro analista pode desenvolver uma maior sensibilidade para a complexidade da psique humana e para a variedade de respostas e defesas psíquicas. Essa exposição a diferentes modos de funcionamento psíquico pode estimular a autorreflexão e ampliar a consciência do próprio mundo interno.
A ênfase do Grupo de Transmissão na circulação da palavra e na atenção às dinâmicas grupais também contribui para esse processo. Ao participar ativamente das discussões e ao observar as interações dentro do grupo, o trainee pode obter insights sobre dinâmicas interpessoais e fenômenos transferenciais que podem ressoar com sua própria experiência analítica. Embora o "grupo de transmissão" não substitua a profundidade e a intensidade da análise pessoal, ele oferece um espaço suplementar de aprendizado e reflexão sobre as complexidades da psique. A observação das diferentes maneiras com que os colegas se apropriam dos conceitos psicanalíticos, apresentam casos e interagem no grupo pode funcionar como um "espelho", permitindo ao trainee refletir sobre seus próprios processos psicológicos e suas próprias resistências. Essa experiência vicária pode iluminar aspectos do inconsciente e das defesas que talvez não fossem acessíveis apenas na análise individual. Portanto, o "grupo de transmissão" atua como um espaço de enriquecimento da análise pessoal, proporcionando um contexto onde a experiência subjetiva pode ser confrontada e ampliada através do contato com a subjetividade do outro.
Desenvolvendo a Escuta Clínica: O Papel do Grupo na Preparação para a Supervisão
O "grupo de transmissão" desempenha um papel crucial no desenvolvimento das habilidades clínicas essenciais para a prática psicanalítica, preparando o futuro analista para o processo fundamental da supervisão clínica. A apresentação e a discussão de conceitos teóricos e de vinhetas clínicas em um ambiente grupal aprimoram a capacidade do trainee de articular sua compreensão e de engajar-se no pensamento analítico. A necessidade de expressar ideias de forma clara e coerente para um grupo de pares e para um facilitador mais experiente contribui para o desenvolvimento da confiança e da precisão na comunicação do raciocínio clínico.
A escuta das perspectivas dos colegas e dos facilitadores experientes fomenta o desenvolvimento de uma escuta clínica mais refinada e aberta. A exposição a diferentes interpretações e abordagens enriquece a capacidade de considerar múltiplos pontos de vista e de evitar a fixação em uma única compreensão do caso clínico. O princípio do Fluxus de promover a circulação da palavra e a apresentação de casos clínicos está diretamente ligado à prática da supervisão, onde o analista em formação precisa apresentar seu trabalho e receber feedback. A estrutura não hierárquica que frequentemente caracteriza os "grupos de transmissão" cria um ambiente seguro para que os trainees expressem seus pensamentos e dúvidas, promovendo a confiança em suas habilidades clínicas em desenvolvimento. O artigo do Instituto Sedes Sapientiae destaca que a supervisão é um espaço intermediário focado nos movimentos transferenciais e contratransferenciais. O "grupo de transmissão" pode preparar os trainees para essa dimensão da supervisão ao expô-los a diversas interpretações e ao fomentar uma sensibilidade para essas dinâmicas complexas. A natureza colaborativa e discursiva do "grupo de transmissão" funciona como um espaço de "pré-supervisão", onde os trainees podem praticar a articulação de seu raciocínio clínico e receber feedback em um ambiente menos formal do que a supervisão individual. Essa prática inicial contribui para uma entrada mais confiante e eficaz no processo de supervisão formal.
O Tripé Fortalecido: A Centralidade do Grupo de Transmissão na Formação
O "grupo de transmissão" não é apenas um componente adicional na formação psicanalítica, mas sim um elemento central que fortalece cada um dos pilares do tripé analítico.
Teoria: A experiência grupal enriquece a compreensão teórica através do aprendizado compartilhado, da exposição a diversas perspectivas e da constante busca pela conexão entre a teoria e a prática. A discussão em grupo transforma o estudo teórico em um processo vivo e dinâmico, onde os conceitos são constantemente revisitados e ressignificados.
Análise Pessoal: O "grupo de transmissão" complementa a análise pessoal ao oferecer oportunidades para observar as manifestações do inconsciente em outros e ao estimular a autorreflexão. Embora não substitua a análise individual, a experiência grupal amplia a compreensão das dinâmicas psíquicas e pode iluminar aspectos do próprio inconsciente do trainee.
Supervisão: As discussões e as apresentações de casos no grupo preparam os futuros analistas para a supervisão clínica, desenvolvendo suas habilidades de pensamento analítico, de escuta e de articulação do raciocínio clínico. O ambiente colaborativo e o feedback recebido no grupo fornecem uma base sólida para o trabalho de supervisão.
O Grupo Fluxus reconhece explicitamente a importância do tripé freudiano , e sua prática demonstra como o "grupo de transmissão" se integra a essa estrutura fundamental. A transmissão da psicanálise está intrinsecamente ligada ao tripé analítico, e que todos os elementos da formação devem produzir efeitos analíticos. O "grupo de transmissão" atua como um veículo essencial para essa transmissão, promovendo a integração das dimensões pessoal, teórica e prática da formação.
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Tabela 1: O Papel do "Grupo de Transmissão" no Fortalecimento do Tripé Analítico
Pilar do Tripé Analítico |
Como o "Grupo de Transmissão Fluxus" Contribui |
Teoria |
Facilita a compreensão aprofundada através da troca de ideias e da exposição a múltiplas perspectivas. Conecta a teoria com a prática clínica através da discussão de casos. Estimula o desenvolvimento do pensamento analítico crítico. |
Análise Pessoal |
Oferece oportunidades para observar as dinâmicas inconscientes em outros, promovendo a autorreflexão. Amplia a compreensão das dinâmicas interpessoais e transferenciais. Encoraja a reflexão sobre a própria experiência analítica a partir das experiências dos outros. |
Supervisão |
Desenvolve habilidades de apresentação e discussão de casos clínicos. Aprimora a capacidade de escuta e a consideração de diferentes pontos de vista. Proporciona um espaço para praticar a articulação do raciocínio clínico. Prepara para a dinâmica da supervisão formal. |
O "grupo de transmissão" funciona, portanto, como uma força unificadora, entrelaçando as experiências individuais da análise pessoal com o aprendizado coletivo da teoria e o desenvolvimento das habilidades necessárias para uma supervisão eficaz. Ele oferece uma ligação crucial entre os aspectos pessoais, intelectuais e práticos da formação psicanalítica.
Conclusão: A Importância Inegável do Grupo de Transmissão
Em suma, o "grupo de transmissão" desempenha um papel vital e insubstituível na formação de psicanalistas competentes e reflexivos. Sua contribuição para um entendimento mais profundo da teoria, seu papel complementar à análise pessoal e sua função preparatória para a supervisão clínica demonstram sua centralidade no fortalecimento do tripé analítico. Ao promover um ambiente de aprendizado colaborativo, crítico e adaptável, o "grupo de transmissão" garante a continuidade e a vitalidade da transmissão do conhecimento e da prática psicanalítica, sendo um elemento indispensável na jornada de formação de todo futuro analista.
Referências citadas
- Tripé da Formação em Psicanálise - Escola de Psicanálise de São ..., https://escoladepsicanalise.com.br/2024/06/30/tripe-da-formacao-em-psicanalise/
- 2. www.sedes.org.br, https://www.sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/arquivos_comunicacao/Trabalhos%20apresentados/GTEP%20-%20Pol%C3%ADtica%20de%20Trasmiss%C3%A3o%20da%20Psican%C3%A1lise%20na%20Diversidade.pdf
- 3. ulbracds.com.br, https://ulbracds.com.br/index.php/interfaces/article/viewFile/2987/337
- 4. pepsic.bvsalud.org, https://pepsic.bvsalud.org/pdf/jp/v47n86/v47n86a10.pdf
APRESENTAÇÃO
Formação contínua de psicanalistas competentes e éticos, desde os conceitos fundamentais até a prática clínica avançada. O princípio norteador é a inspiração na prática do Grupo de Vanguarda Fluxus, que nomeia o grupo. Neste sentido propondo um olhar ampla e transdisciplinar sobre a psicanálie, a antropologia e a filosofia. Mas em deixar a arte, a religião, sociologia, psicologia etc. de fora do debate.
Público-Alvo: Estudantes de psicologia, psicólogos, médicos, outros profissionais com interesse em psicanálise, psicanalistas em formação, psicanalistas experientes buscando aprofundamento, filósofos, sociólogos etc.
SOLICITE A ENTRADA NO GRUPO FLUXUS:
Proposta Formativa:
Vamos atuar a partir de uma estrutura progressiva, cada um com seus próprios objetivos, conteúdos e métodos de ensino
Apresentar os conceitos básicos da psicanálise (inconsciente, recalque, pulsão, complexo de Édipo, fases do desenvolvimento psicossexual, etc.), principais autores (Freud), e a história do movimento psicanalítico. Despertar o interesse e fornecer uma base teórica inicial.
Leitura e discussão de textos fundamentais de Freud (e possivelmente introduções a outros autores), seminários teóricos, estudo de casos clínicos introdutórios (com foco nos conceitos básicos).
Aprofundar a compreensão das teorias psicanalíticas (abordagens pós-freudianas como Klein, Lacan, Winnicott, etc.), explorar diferentes escolas de pensamento, desenvolver o pensamento clínico e a capacidade de articulação teórica.
Como resultado dos encontros pretendemos introduzir os participantes à prática clínica psicanalítica, desenvolver habilidades de escuta, diagnóstico diferencial, manejo clínico e reflexão sobre o processo terapêutico sob supervisão.
Métodos: Aulas expositivas, discussões em grupo, leitura dirigida, análise de vinhetas clínicas simples. Seminários de estudo e discussão, grupos de estudo temáticos, supervisão avançada (opcional), convite a palestrantes externos, incentivo à produção escrita.
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO GRUPO
Coordenação: William B. Figueiredo é Psicanalista,
Pós-doutor pelo Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Doutor em Ciências da Religião (UMESP), especialista em Psicopatologia Fenomenológica e Bem-estar Social (FCMSCSP) e em Gestão e Políticas Culturais (Observatório Itaú Cultural e Universidade de Girona – Espanha/UNESCO). Licenciado em Filosofia (UMESP). Professor Colaborador da Pós Graduação em Ciências da Religião (UMESP). Coordenador da Formação em Psicanálise e Filosofia Decolonial do Instituto Inatekié em São Bernardo do Campo.
Equipe de Formadores: Teremos como convidados psicanalistas experientes e com diferentes formações para conduzir os seminários e palestras. É importante ter diversidade de perspectivas teóricas.
Periodicidade e Duração dos Encontros: Encontros quinzenais, as segundas feiras, das 19h30 as 21h30.
Local dos Encontros: Online via MEET. Mas temos a proposta de produzir encontros presenciais.
Material de Estudo: Será disponibilizado PDF dos textos e matérias de apoio para cada período.
Comunicação: Grupo de Whatsapp, E-mail e Página no Instagram.
Aspectos Pedagógicos
Ênfase na Discussão e Reflexão: Priorizar a troca de ideias, a análise crítica dos textos e a reflexão sobre a prática clínica.
Articulação Teoria-Clínica: Buscar constantemente a conexão entre os conceitos teóricos e a experiência clínica, utilizando exemplos e estudos de caso.
Espaço para a Subjetividade: Reconhecer e valorizar a singularidade de cada participante e seu processo de aprendizagem.
Ética na Formação: Enfatizar a importância da ética na prática psicanalítica desde o início da formação.
Avaliação Formativa: Utilizar métodos de avaliação que acompanhem o processo de aprendizagem (participação, apresentações, trabalhos escritos) em vez de apenas avaliações somativas.
SUSTENTABILIDADE E CRESCIMENTO DO GRUPO
Recrutamento de Novos Membros: Fluxo Continuo
Investimento: $220 mensal
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Considerações sobre o tripé
O Fluxus, se propõe a manter ativo o tripé da teoria. Porém a formação em psicanálise, pressupõe que seja ainda feito Análise e Supervisão, para uma formação adequada de acordo com a área profissional
Análise Pessoal: Embora não seja o foco direto do grupo de transmissão, é fundamental os participantes buscarem sua própria análise pessoal como parte essencial da formação psicanalítica.
Supervisão: Importante e exigido de quem já tua clinicamente, manter a supervisão em dia. Seja com profissionais da Trieb Psicanálise e Assessoria, seja por indicações externas.